Há dias, o senhor presidente da Câmara Municipal do Porto, Rui Rio, numa entrevista na televisão, disse que os portuenses já se estão a habituar à nova Avenida dos Aliados. Muito obrigado Sr. Presidente. Que remédio tiveram eles senão habituarem-se àquele deserto cinzento, embora não tenham sequer onde se sentarem. Não têm outra Avenida dos Aliados. Na minha opinião, aquilo foi um dos maiores atentados urbanísticos que a “invicta” já sofreu. Mas há mesmo assim, quem diga que está melhor do que estava. O que ali está feito, pode de facto parecer melhor, apenas porque é novo. Mas eu acho que nem assim.
Em Penafiel também acontece o mesmo. Por exemplo, o velho e decadente prédio dos “Machadinhos”, foi ao ar, desapareceu por acção do camartelo. O que lá está agora é uma churrascaria muito atraente. Se calhar os penafidelenses, até gostam mais assim do que como estava. Só que se perdeu uma boa oportunidade para ali se fazer obra. Uma Câmara consciente, tinha comprado aquele terreno, e respeitando a sua lindíssima fachada, teria lá construído quem sabe, uma galeria de arte, coisa que não temos em Penafiel.
Já aconteceu com os famigerados passeios da cidade. Reconheço que estavam muito estreitos, mas perdeu-se mais uma oportunidade de os alargar (não tanto como estão, que parecem estradas) com a bela calçada à portuguesa. Isto sim, Penafiel sorria de beleza, assim não, chora de tristeza. Há quem diga que estão muito bem com aqueles pedregulhos amarelos. Se aquilo é amarelo, eu sou da cor do arco-íris. Aqueles passeios, estão feios, estão cinzentos, pintalgados de chiclas que nem os célebres “papas” os lambe.
Aconteceu com o antigo Magistério Primário. Era de facto necessário ali fazer obras. Mas foi pior a emenda que o soneto. O que lá está, não se parece com nada. Encostaram umas paredes de betão a um edifício que tem uma frontaria setecentista lindíssima. Aquilo parece uma cena do “Nemo”. Parece uma baleia a engolir um golfinho. Aquilo não se faz. Misturaram o feio moderno a lago que era uma antiga referência de Penafiel.
Está acontecer com o local do antigo Cine Teatro S. Martinho. Naquele espaço, está a nascer uma “grande novidade”: um mamarracho para escritórios e comércio. Coisa que se calhar a cidade não tem. Mas comparando, sempre vai ficar mais bonito o local, do que com aqueles taipais que durante anos ilustraram o antigo largo de S. Mamede. Até já foi parque de estacionamento e “tasca dos borrachões” pelo S. Martinho, lembram-se.
Se tivéssemos uma câmara com sensibilidade para estas coisas, esta teria adquirido o espaço e fazer dele (a exemplo de muitas localidades), um Teatro Municipal para orgulho dos penafidelenses. É preciso lembrar que Penafiel não tem uma sala de espectáculos, digna desse nome há cerca de 25 anos.
Se calhar vai acontecer o mesmo com a maior esplanada da cidade que está fechada há três verões. Aquilo mete dó. Ninguém tem vergonha daquela paisagem. A esplanada do Calvário é da Câmara Municipal. E o que esta fez para mudar alguma coisa? Nada. Deixou tudo ao abandono.
Pelos murmúrios, parece que ali vai surgir uma “pizzaria”. Pronto, sempre vai ficar melhor do que aquela porcaria que está no seio de um belo e bucólico jardim, no coração da cidade. Parece que já estou a ver o António Nobre, como o seu livro “Só”, numa mão e na outra, um pedaço de pizza. Lindo de se ver!
Estas obras só beneficiam, ou podem beneficiar, por serem novas, e comparando com o que estava, sempre é outra coisa. Só que na realidade, parece mas não é!
Uma Câmara sensível para estas coisas, que não andasse tão empolgada com as caras e elitistas “escritarias”, obcecada com a pseudo-mobilidade para todos, preocupada com as constantes festas e foguetórios à bordaleza, teria evitado que a nossa cidade fosse ou vá perdendo referências todos os dias. E isto sem falar do pomposo Plano Estratégico de Mobilidade para a cidade de Penafiel.
Este texto foi publicado na última edição do jornal "Repórter do Marão", e passados três ou quatro dias recebi dois "mails" talvez sociais-democratas, a mandar umas bocas. Que estou sempre a falar do mesmo. Qua passo a vida a falar do Cine Teatro S. martinho e por aí fora. Enfim, o restolho do costume vindo de alguns meninos queques que por aí vegetam.
Recebi um outro mais sério, de um senhor de nome Rosendo, dizendo que a história do cinema, já pertence ao passado e que está na hora de virar a página.
Tudo bem, ou tudo mal, a isto só respondo com o exemplo da Câmara de Santo Tirso e que veio publicado no Jornal de Notícias que diz assim:
"A Câmara de Santo Tirso adjudicou por 1,46 milhões de euros a obra de requalificação da Praça Humberto Delgado e Rua Nuno Álvares Pereira. A intenção é reforçar o movimento dos peões e também salientar a importância que virá a ter na cidade, o Cine Teatro após concluída a reabilitação em curso"
Está tudo dito...