PENAFIEL SEM ALMA

Não sou dos que dizem que “antigamente é que era bom”. Que “no meu tempo as coisas eram bem mais bonitas” e muito menos gosto de trautear a famosa canção do António Mourão “Ó tempo volta pra trás”. Mas que a foto acima nos mostra um pedaço da cidade de Penafiel de meados dos anos 60 do século passado, muito mais airosa, com a sua verdura, entrecortada por espaços decorados com calçada à portuguesa, disso não tenho dúvidas. Tinha um separador central majestoso, arborizado, unificador das suas gentes. Hoje Penafiel, caminha a passos largos para a sua desumanização. Está a ser “regenerada” com florestas de granito e betão. A cor verde está a dar lugar ao cinzento, um pouco por todo o lado. Estão a modernizar, envidraçar uma cidade com quase 250 anos de história. A cidade de Penafiel está moribunda. Está prestes a sufocar entre pedras e cimento. Ela precisa de sair deste pesadelo em que está mergulhada. Esta primavera foi molhada e isso ficou-se a dever às lágrimas que derramou por ruas, avenidas, praças, largos e jardins. Penafiel está a ser sujeita a um hediondo massacre, a uma horrível tortura. Estão a roubar-lhe a sua verdadeira identidade. Estão a retirar-lhe o estatuto de cidade antiga e aquilo que ela tem de mais sagrado: a alma. Um dia destes, jaz morta e arrefece.
Fernando Beça Moreira 
publicado hoje no Jornal de Notícias