domingo, 27 de fevereiro de 2011

O IC-35 e a estrada nacional 106...


Anda a circular em Penafiel, uma petição a favor da construção da IC 35, estrada que vai ligar Entre-os-Rios a Penafiel e vice-versa.

Não me incomoda nada que a construam, assim como não me escandaliza nada que o projecto não vá para a frente. O que me parece é que e petição está fora do tempo politicamente. Esta história já tem muito tempo, mas só agora é que surge “pedição” das assinaturas. Como esta história já leva dez anos, eu não vi esta reivindicação ser feita no tempo em que o PSD foi governo, entre 2002 e 2005, sendo a cor política do presidente da câmara de Penafiel a mesma de Durão Barroso e Santana Lopes, ex-primeiros ministros. Se o actual governo fosse social democrata, estou convencido que Alberto Santos não andava tão agitado.

A estrada nacional 106, pode não ser uma auto-estrada, mas é uma boa via. Se a quantidade de acidentes é grande, é tão grande como a falta de civismo das pessoas que nela transitam. A sinistralidade está na forma como os condutores abordam a estrada. Pensam que é tudo deles.

O país europeu com mais auto-estradas na Europa é Portugal. Quer considerando o critério do número de auto-estradas por número de habitantes, quer considerando o número de auto-estradas por quilómetro quadrado. O país está todo estralhaçado com tanto alcatrão em detrimento de zonas verdes, só porque suas excelências querem chegar mais depressa  aos seus destinos. Não é por acaso que não estou de acordo com a construção do TGV. Iria mais pela recuperação de linhas férreas que têm sido abatidas ao longo dos tempos por políticas economicistas.

Não duvido da necessidade das ambulâncias terem de chegar o mais depressa possível aos hospitais, porque estamos a falar de vidas em alto risco. Não duvido que mais e melhores estradas podem significar mais desenvolvimento do país, concretamente no interior escondido e profundo. Mas do que também não duvido é que muitas das reivindicações estradistas são pensadas dentro dos bólides topos de gama dos políticos, nada condizentes com a obrigatoriedade de andar a 50-60 ou70 à hora.

As premissas dessa petição não me convencem muito. Por exemplo a nº 3 diz que “Os concelhos e as freguesias abrangidas poderão ver melhorada, de uma forma considerável a sua condição socioeconómica, estimulando o investimento e consequentemente a criação de emprego, tendo em conta as potencialidades comerciais e industriais que esta via poderá desenvolver, reduzindo os custos das empresas e conseguindo mais investimentos para a região.”

Na minha opinião, se for construída a IC 35, muito do comércio que está instalado ao longo desta 106 poderá desaparecer. Logo pode dar origem precisamente o contrário que o pressuposto prevê, quanto ao emprego. Cafés, restaurantes, “tascas” e outras lojas, seriam as principais vítimas. Há milhares de exemplos por este país abaixo e acima.

A premissa nº 5 diz que “o congestionamento da EN 106, faz com que os seus utilizadores demorem muito tempo para percorrerem pequenas distâncias.”

Srs. condutores, se querem chegar a tempo e horas aos seus empregos saiam de casa mais cedo. Liguem a rádio e oiçam por exemplo, um Mozart, um Lizt, um Chopin e vão ver que chegam aos seus escritórios a horas e menos stressados. Tenham tempo de apreciar a paisagem penafidelense, que é lindíssima. Verdura é formosura. Lembrem-se que a pressa é inimiga da perfeição e mais vale perder um minuto na vida do que ir desta para melhor. Depois quando se pensa numa boa estrada, pensa-se logo que vai dar azo à entrada de gente, que vai beneficiar isto e aquilo, sem se pensar que uma estrada dá para entrar, mas também dá para sair.

Mas o que incomoda mais nesta história é ver o Sr. presidente da câmara municipal de Penafiel muito preocupado com a sinistralidade da EN 106, chegando a fazer chantagem emocional, como recentemente o fez com a morte de uma senhora idosa, nas Termas de S. Vicente, que atravessou a rua e foi atropelada fora de uma passadeira. Parece que quantas mais pessoas morrerem melhor, só para reforçar esta reivindicação da IC 35. Isto para mim é trágico, é obsceno.

Pode haver de facto umas estradas melhores que outras, mas não há estradas perigosas. Há é condutores perigosos e muita gente incivilizada. Todo o mundo sabe que a maioria dos acidentes que se registam no nosso país, se devem ao excesso álcool e às altas velocidades. Também sabemos que há gente que em vez de ter um carro na mão, devia ter era um carro de mão.

Texto publicado na última edição do jornal "Imediato"

1 comentário:

  1. Lamentável esta posição de quem, obviamente, está bem instalado e bem servido de vias de comunicação!

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