domingo, 27 de fevereiro de 2011

OS PACÓVIOS BAIRRISTAS PENAFIDELENSES...

E se de repente, alguém dissesse que bairrismo é um sentimento pacóvio? Enviava-se-lhe um ramo de flores? Um frasco de perfume? Um postal de boas festas? Um mail a aplaudir? Se calhar nada disso. Mas um comentário procurar-se-ia junto de alguém que seja bairrista. De repente julgou-se necessário ter uma pequena conversa sobre a dialéctica “bairrista/pacóvio”.
Foi o que se fez. Fomos ao encontro de alguém que nasceu, cresceu, vive e escreve muito sobre Penafiel.

Sr. Asdrúbal, o senhor é bairrista?
Sou. Gosto muito da minha terra. Amo este pedaço de chão que me viu nascer. Ao ponto de falar dele, escrever sobre ele e de o elevar ao ponto mais alto que puder. Por ser bairrista, é que critico muitas coisas desta minha aldeia, sempre com o objectivo de que as coisas se façam ou mudem na melhor direcção, para satisfação e felicidade de quem cá vive.

Neste mundo globalizado, não acha que o bairrismo, está a ficar fora de moda?
De modo nenhum. É precisamente fulcral, que nesta tentativa de se misturar tudo e todos, que o bairrismo não se perca. Um dia destes vamos acordar e não sabemos que povo somos. Nunca se sabe se amanhã somos espanholeses ou portunhóis. Engraçado que sendo eu bairrista, já não sou muito patriota. O patriotismo remete-nos para um todo que é Portugal e eu da história de Portugal tenho uma visão muito complexa. Acho que o hino nacional e a bandeira portuguesa estão a cair na banalidade muito por causa do futebol. Eu gosto do meu país, porque é nesse país que fica a minha rua, a minha travessa, a minha gente, a minha escola, o meu local de trabalho. O bairrismo é mais local, tem a ver com as nossas raízes, as nossas origens, as nossas vivências. É uma marca que diferencia as populações, sem estarem de costas voltadas umas para as outras. As pessoas, os povos, são diferentes, quantos deles estando separados, se complementam muito bem.

Mas há quem diga que o bairrismo é um sentimento pacóvio…
Eu sei que há. E não só. Também há quem titule uma pessoa que defende os interesses da sua terra, de bairrista paroquial. É só para achincalhar. Já ouvi isso da boca de políticos e de intelectuais de trazer por casa.
Um bairrista é aquilo que eu disse atrás. Um pacóvio é um simplório, um analfabeto que sabendo ler, é um ignorante. Conheci muita gente de ontem e de hoje que foram grandes bairristas e que de pacóvios não tinham nada. Estou a falar de nomes como por exemplo: Abílio Miranda, Albano Morais, Antony, Alberto Pinto, etc., etc.. É só consultar a História de Penafiel, que é a terra deles

Na sua terra há bairristas?
Há sim senhor. E também há pacóvios. Conheço de facto muitos bairristas, sem serem aqueles que se sentem mais bairristas do que os outros, só porque são sócios do FC de Penafiel. Conheço alguns bairristas que não indo em futebóis, gastam muito do seu tempo, até do seu dinheiro a fazer e a dizer coisas sobre a sua terra, às vezes com custos morais para eles próprios. E conheço pacóvios, que não são bairristas porque não têm que o ser. Ou porque não são de cá, ou sendo de cá naturais, não têm capacidade de sentir as suas origens, nunca sabendo, ou não querendo, detectar o que está bem ou mal na terra que os viu nascer. São assim uma espécie de mania de ir com as outras.

Quer concretizar melhor essas ideias?
Com certeza. Por exemplo, será que eu sou pacóvio quando digo que o Prémio de Poesia Daniel Faria, deveria ter o nome de um poeta penafidelense? Acho que não. Isto nem sequer é bairrismo. Isto é reagir a um erro grave que foi cometido em Penafiel. Aqui não há bairrismo, aqui há um sentimento de injustiça, que todo e qualquer penafidelense pressente. Será que sou pacóvio se eu ficar feliz pelo facto de o nosso Museu Municipal ganhar um prémio nacional de museus? Isto é ser pacóvio? Bairrista ainda aceito, pacóvio, por amor de deus. Será que sou pacóvio ao criticar as “Grandes Escritarias”, quando nesta terra ainda não se fez a mais pequena colectânea de poetas penafidelenses, tanto do passado, como de hoje? Não sou pacóvio, nem sequer bairrista. Sou realista. Estou a chamar a atenção para mais uma injustiça cultural. Outro exemplo: O Justino do Fundo ao “puxar” para Penafiel o Hospital Padre Américo, foi bairrista ou pacóvio? Se há pacóvios em Penafiel, ele não foi de certeza. Bairrista talvez, mas porque sabia o que era melhor para nós, penafidelenses. O nosso actual presidente da Câmara Municipal, ao trazer para Penafiel, a Bracalândia, a Loja do Cidadão, ou o Tribunal Administrativo, foi pacóvio? Não foi. Simplesmente entendeu que eram mais valias para Penafiel. O Coelho Ferreira que só escreve sobre Penafiel é um pacóvio? Não. É alguém que gosta do que faz que é investigar coisas sobre a sua terra.

Então quem são os pacóvios?
Há pacóvios que eu conheço, que sendo simplórios, ignorantes analfabetos, o são, não por culpa própria. São vítimas das sociedades e de alguns perversos sistemas políticos. Eu sei que não há sociedades perfeitas. Há gente simplória em todo o lado. Mas os verdadeiros pacóvios são aqueles que querem fazer dos outros, tudo isso e mais alguma coisa. Esses é que são os pacóvios. São esses que, julgando-se muito eruditos, muito cultos, muito Mozarts, muito Bachs, muito Chopins, muito Prousts, grandes camonianos, grandes pessoanos, não passam de seres que vegetam por aí à procura dos holofotes.

Está a falar de alguém em particular?
Estou a falar de pessoas que se calhar nem sequer são de Penafiel. Serão pessoas cultas. Enchem páginas de jornais de coisas eruditas que praticamente ninguém lê. Nunca falam de Penafiel. Só pensam em cultura num patamar superior, para que fiquem a falar sozinhos. Falam de grandes livros, de grandes obras, de grandes escritores. Exultam com a “Escritaria” e o Prémio Daniel Faria e se calhar desconhecem a maioria dos poetas de Penafiel. Nunca mexeram uma “palheira” no sentido de sensibilizar quem tem dinheiro e poder nesta terra, para que, por exemplo, se edite, pelo menos, a tal colectânea de poetas da nossa terra, de que falei atrás e que está por fazer. Tenho a certeza que eles desconhecem qual o poeta penafidelense que escreveu o lindíssimo poema “ As minhas três amantes”, ou o autor das belíssimas “Palavras Mansas”. Mais, eles não estiveram presentes no maior recital de poesia que se realizou em Penafiel, há três ou quatro anos. Não têm sensibilidade nem cultura para isso.

Quer concluir?
Concluo, dizendo que lamento que nesta terra haja pessoas, que andam para aí de nariz empinado julgando-se mais cultos que toda a gente, quando não passam de pacóvios como eu, por exemplo, não sendo eles bairristas…


Esta entrevista, é pura ficção, mas parte de um "mimo" proferido e publicado no jornal "O Penafidelense", pelo articulista Alfredo de Sousa ao dizer que "o bairrismo é um sentimento pacóvio". Esta "entrevista"  foi rejeitada para publicação, pelas redacções dos jornais "municipais"  "Notícias de Penafiel"  e "O Penafidelense"... 

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