Depois há ainda outra coisa. Eu não sou daqueles que dizem "ai no meu tempo", "antigamente é que era bom" ou que "Penafiel do passado é que era linda" e por aí fora. Tenho 62 anos, mas o meu tempo é este, e Penafiel hoje está muito melhor do que no tempo quando eu era criança ou adolescente. Também não vou aqui destruir todas as imagens do passado penafidelense. Havia coisas bonitas em Penafiel e que foram destruídas. Refiro-me concretamente a algo como a Praça do Mercado, o Cine-Teatro S. Martinho, o antigo quiosque, o separador central arborizado nas nossas principais avenidas, a calçada à portuguesa existente nos passeios e se calhar a avenida das cerejeiras era mais bonita que a que temos hoje. Até o Largo da Ajuda com árvores era mais belo. Outros tempos de facto.
Justino do Fundo costumava dizer num assomo de bairrismo que "Penafiel era a terra mais bonita do mundo". Não era, não. Lembro-me que, quando eu era rapazote, Penafiel era uma cidade suja, não tinha grande higiene. Havia lixo por todo o lado e houve durante muito tempo muitas artérias, muitas ruas da cidade em terra batida. Muitas mesmo. O comércio local era composto por lojas com portas sujas e gastas, carcomidas pelo tempo. Nada que se compare com o que se vê hoje. Veja-se a foto da casa do Antony, cuja entrada mais parece uma casa igual às que existem degradadas actualmente na Rua do Carmo. Veja-se a foto da criançada a brincar na Avenida Nova, actual Faião Soares, em que os esgotos corriam pela meio da rua. Eu morava na Travessa dos Fornos e não tinha saneamento. Era uma porcaria. Era de facto uma terra que pertencia a um país do terceiro mundo. Esse meu tempo era o mesmo tempo de Craveiro Lopes, de Salazar, de Tomás, de presidentes de Câmara que não tinham dinheiro, nem competência para mudar e melhorar o que quer que seja.
Penso que o que faz a diferença de Penafiel de ontem para Penafiel de hoje, é de facto tudo o que está ligado à limpeza, à higiene, à salubridade, à falta de condições básicas de habitabilidade. Porque de resto em termos paisagísticos, a cidade de hoje perde em favor do passado.
E eu que disse no início deste texto que não sou pessoa agarrada ao passado, porque o meu tempo é o de hoje. É é verdade, por isso é que a regeneração urbana que está aí hoje, faz-me olhar para ontem...
Clicar nas imagens para ver melhor o lado mau da nossa cidade há um bom par de anos...
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