Captura de Gungunhana em Chaimite por Mousinho de Albuquerque
Ambos falam de livros. Ambos são comunicadores. Ambos são de direita. Um é professor, o outro é jornalista. Ambos falam na televisão. Um, numa televisão de carácter regional, o outro numa estação nacional. Um é ao domingo à noite, outro é quando calha. Têm estas coisas em comum, mas estão de facto longe um do outro. Nenhum deles tem contraditório. Dizem o que lhes vem à cabeça e lá vai disto que são horas. Ambos falaram dos Albuquerques. Um foi recentemente, o outro já foi há tempos, mas só agora é que descobri, tal achado. Um só aludiu a uma data histórica. O outro teceu alguns comentários. Um lembrou os 500 anos da “Tomada de Goa”, por Afonso de Albuquerque. O outro falou da heroicidade de Mousinho de Albuquerque. É caso para dizer: Olhem que dois, tão apaixonados pelos Albuquerques.
Um Albuquerque, o Afonso, tomou Goa fez no dia 25 de Novembro quinhentos anos. O outro Albuquerque, o Mousinho, capturou Gungunhana em Moçambique, no tempo do gordo caçador rei D. Carlos.
Já estão a ver naquilo em que me estou a meter. Estou-me a meter na saga dos “descobrimentos”, na “expansão” portuguesa, no colonialismo, na escravatura. Estou-me a meter em farrapos que dão pano para muitas mangas. Mas eu só quero e brevemente, falar destes dois grandes “heróis” portugueses.
Desde já lhes digo, que para mim, os descobrimentos não existiram, com excepção da descoberta da Madeira e dos Açores. O que se passou numa fase da nossa história, foi apenas um assalto a terras que tinham riquezas e era preciso ir buscá-las para suprir falta de tudo num país miserável, ainda por cima saído de uma “peste negra” que arrumou com meio mundo. Os “descobrimentos” se me dizem alguma coisa é pela negativa. Não tenho nenhuma simpatia por nomes como Vasco da Gama, Infante D. Henrique, Pedro Álvares Cabral, Francisco de Almeida e outros que ao serviço da “coroa” portuguesa, cometeram as maiores atrocidades, as maiores patifarias, as maiores barbaridades. Vasco da Gama, por exemplo, aos indígenas que se opunham á cristianização, cortava-lhes as mãos. A outros, simplesmente cortava-lhes a vida.
Não me venham dizer que naquele tempo isso era natural e que a vida de um moçambicano, indiano, angolano, timorenre ou um cidadão da Guiné, Cabo Verde e São Tomé não valia nada, porque aquela gente era selvagem. Eu não vou por aí. Ontem, hoje e amanhã, uma vida é uma vida, seja em que latitude for e tenha pele a cor que tiver. O Camões não falou toda a verdade, disse a sua verdade, quando escreveu os “Lusíadas”. A sua obra não passa de uma exaltação patriótica de fazer inveja a Salazar. O mesmo fez Pessoa, na sua “Mensagem”. Na minha opinião, Camões e Pessoa não foram os maiores poetas portugueses. Longe disso. Felizmente outras letras se levantaram.
Claro que era mais fácil roubar do que trabalhar para obter riqueza. Porque levar o “mundo a outros mundos” é pura ficção, é romance, é patriotismo bacoco. Mas vamos aos Albuquerques, tentando não me perder em muitos mais pormenores (pormaiores quanto a mim).
No que diz respeito aos 500 anos da conquista de Goa, será que se comemorou aquilo que não foi mais que uma invasão, uma conquista, em que pereceram milhares de goeses em defesa daquilo que era deles? Sabemos, e não é preciso ir à Net, que o futuro Vice-Rei da Índia era um homem mau, não olhava a meios para atingir os dantescos fins da realeza portuguesa: saquear, roubar, assassinando quem lhes aparecia pela frente. Era disto que o professor na TV estava a falar com todo o ar de satisfação? Era isto que pretendia que se comemorasse? Não nos devemos esquecer que a História de Portugal foi escrita por portugueses, com uma visão do lado dos vencedores. Será que a História da Índia é igual á portuguesa. O tanas é o que é.
Quanto ao Mousinho de Albuquerque, ser um herói, isso só pode ocorrer na cabeça de alguns saudosistas de uma passado, que nem lembrar é bom. Esta história remete-me para os meus 16/17 anos quando vi no falecido Cine-Teatro S. Martinho o filme “Chaimite”. Saí do cinema cantando e rindo o hino nacional e, imaginariamente, empunhando a bandeira de um patriotismo podre, que Salazar tanto propagandeava nos verdes anos 60, enquanto decorria a matança de pretos e brancos numa fracticida e injusta guerra colonial. Mousinho de Albuquerque, capturou Gungunhana, já numa fase em que o “Leão de Gaza” estava sozinho, derrotado, sem meios para defender o que era dele. Estava só, porque o seu exército lhe virou as costas quando lhe cheirou a esturro português. Mais, o tal senhor da TV regional, disse que Mousinho de Albuquerque, era um exemplo a seguir nos nossos dias.
Meu Deus, ainda há disto? Ainda há quem pense e fale assim? Estamos de facto perante um cidadão pouco recomendável. Estamos perante uma pessoa que, este sim, não serve de exemplo a ninguém. Se um dia chegasse ao poder só um pedacito desta gente: “Ai Portugal, Portugal/ de que é que estás á espera/ Tens um pé numa galera/e outro no fundo do mar”
Há quem sustente que nos nossos dias, Mousinho de Albuquerque, era julgado e condenado por crimes contra a humanidade. Mas eu tenho as minhas dúvidas, na medida em que, nem a Bush, nem aos seus seguidores (Durão, Aznar e Blair), lhes ensinaram o caminho para o Tribunal Penal de Haia, para responderem pelos seus crimes, aquando da invasão do Iraque.
A história da prisão de Gungunhana e a “conquista de Goa, fazem lembrar precisamente a guerra que se instalou no “berço da humanidade”. É que os Estados Unidos e seus lacaios aliados, invadiram a terra do ditador Saddam, porque sabiam que este não tinha, nunca teve, forças para suster os criminosos invasores. Aos actos destes “Albuquerques”, eu chamo cobardia e não heroicidade. À opinião destes senhores da, e na comunicação social, eu lamento dizer-lhes: vão pregar para outra freguesia. Porque de papagaios, eu só gosto daqueles às cores…
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