quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

A VIDA E OBRA DE CAVACO SILVA (3)


O eleito da Figueira iria acabar com o Bloco Central enquanto aliança governativa. E a sua vitória nas legislativas de 1985 de novo esperava pela eleição de um presidente que desse corpo ao desígnio carneirista. Porém a derrota de Freitas do Amaral deixou Cavaco sem presidente mas com apoio oportuno do PRD .

Diga-se, em abono da verdade, que o anterior governo do Bloco Central dirigido por Mário Soares lhe abrira um largo e bem asfaltado caminho. Assim, a Cavaco bastou-lhe ressuscitar a proposta de lei dos despedimentos do Bloco Central em que tudo passou a ser motivo de despedimento com justa causa: inadequação à evolução tecnológica, necessidade de extinção do posto de trabalho, pois claro, e motivos económicos, tecnológicos e estruturais de mercado. Ou seja, quando o patrão quiser.

A reprivatização, ainda ao arrepio da Constituição, do sector nacionalizado, nomeadamente os sectores básicos da economia, foi também inspirada numa proposta governamental do Bloco Central que argumentava, nomeadamente, ser “um contra senso a absolutização da irreversibilidade das nacionalizações” pois não permitiria a introdução de novas tecnologias ou a alienação de alguns equipamentos!...
Ninguém como Cavaco Silva foi tão activo ao serviço dos velhos interesses monopolistas. Ele foi, dentro da inspiração neoliberal, o seu homem de mão mais eficaz.

A reestruturação dos impérios financeiros, numa primeira fase mascarados de industriais, veio articulada com o ataque à indústria pesada metalomecânica.

A grande crise do distrito de Setúbal resultante do ataque concertado à produção da Lisnave, Setenave, Quimigal, Siderurgia, teve origem na política já traçada desde o início dos anos oitenta, mas Cavaco Silva deu-lhe o impulso decisivo. Nos finais de 1994 todo o processo de liquidção da Lisnave – o mais emblemático - com o despedimento final de mais 4 mil trabalhadores chegava ao fim, abrindo espaço à especulação imobiliária e conduzindo à morte da indústria de construção naval em larga escala.
A Siderurgia Nacional foi divida em três partes e vendida ao desbarato A SN/Empresa de Serviços ficou nas mãos do então IPE,hoje Parapública, para resolver o problema do despedimento de centenas de trabalhadores.

O ataque à Sorefame, como todos os ataques cavaquistas em forma, começa com grandes investimentos sem sentido e sem consequência na produção de material necessário aos caminhos de ferro, passando-se a alugar material de circulação a Espanha! O objectivo, nunca confessado mas alcançado, era o de dar liberdade de acção, sem concorrência, ao negócio das rodoviárias privadas, através do fecho de estações e apeadeiros e mesmo de linhas dos Caminhos de Ferro.


Continua...

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