quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

A VIDA E OBRA DE CAVACO SILVA (4)


Já em 1986 D. Manuel Martins, bispo de Setúbal , alertava para o facto de nos três últimos anos terem fechado mais de setenta empresas no distrito aumentando o desemprego, a precariedade e os salários em atraso.

Tratou-se de processos cheios de fintas, cambalachos, torcidelas e violações da lei e da Constituição, numa cumplicidade pornográfica entre o grande capital e Cavaco, que lenta mas dolorosamente iam acabando com o emprego e com o tecido industrial, lançando a praga do trabalho precário a seguir à dos salários em atraso.

Mas para estes tinha Cavaco uma solução: os trabalhadores que rescindissem amigavelmente os contratos teriam direito à indemnização e ainda a seis meses de subsídio de desemprego.
Aliás para Cavaco não havia salários em atraso: o que “há é falências em atraso” (sic).

O primeiro período, em 85, de governação em minoria, foi dos mais frutuosos para a direita. Foi aí que Cavaco lançou as bases do que iria ser a sua governação até 1995. Ainda sem maioria absoluta mas contando com um discreto apoio do PRD até 1987.

A fé de Cavaco era alimentada por uma conjuntura internacional favorável (baixa do dólar, das taxas de juro e dos preços do petróleo) e pelo maná dos fundos comunitários que chegou a ser de um milhão de contos por dia, grosso modo. Traduzia-se no apoio do governo aos capitalistas que lançaram os trabalhadores no desemprego, pagaram salários competitivos (mais baixos que no 3º mundo) que disfarçavam os despedimentos colectivos atirando milhares de trabalhadores para a inactividade dentro das empresas, em processos de chantagem e de uma violência moral inaudita, enfraquecendo energias a fim de impor a rescisão “voluntária”, enquanto eram alugados, à hora, trabalhadores de empreitada sem direitos.

Foi tal fé que inspirou a grande ofensiva para privatização dos sectores fundamentais da economia: agricultura, pescas, indústria, transportes.
Os grandes industriais, entretanto, iam preparando a passagem com armas e bagagens para o sector financeiro e imobiliário.


Continua...

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