quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

A VIDA E OBRA DE CAVACO SILVA (2)


Cavaco Silva avançou com a desregulação administrativa da economia, o ataque ao sector público, à reforma agrária, redução da inflação através da contracção do poder de compra, perspectivar o desemprego como um fenómeno de curto prazo, apostando no investimento privado estimulado pelos baixos salários e pelo controlo da inflação. Para isso os trabalhadores “têm de colaborar”, baixando as suas reivindicações. Enfim, imposição do pacto social, ou nacional ou patriótico, a bem ou a mal. Cavaco no seu melhor então como em 1985/91 ou em 2006 se lhe dessem rédea.

O projecto de Soares Carneiro era apresentado como “Reencontro histórico com Portugal para repensar o seu futuro”. E esse reencontro histórico passava pela tentativa de revogar, por referendo, o texto fundamental do 25 de Abril, a Constituição. Um plebiscito contra a Constituição.

Na altura, em Outubro de 1980, o deputado da ASDI Jorge Miranda dizia, a propósito da questão: “ A democracia constrói-se através da democracia. A democracia é acima de tudo uma atitude moral”.
Cavaco achava, já nesse tempo, que não. Achava, como hoje, que a democracia se constrói na libertinagem do mercado que a Constituição entravava.

Preparando o golpe, a AD lançou um forte ataque à liberdade de informação, impedindo os Conselhos de Redacção de funcionar, chegando-se ao ponto de os testas de ferro na RDP chamarem a polícia para impedir o Conselho de Redacção de reunir.

Grande parte dos melhores jornalistas da RDP e da RTP foram irradiados ou colocados na prateleira sendo substituídos por comissariozinhos políticos e analfabetos
O próprio Marcelo Rebelo de Sousa dizia no Expresso em Outubro de 1980: “temos, deste modo, à frente da gestão das instituições informativas controladas pelo Estado pessoas escolhidas de acordo com um critério político e que obviamente actuarão de acordo com esse critério”.

Sá Carneiro dizia na RTP que, se o seu candidato perdesse, as “grandes batalhas políticas se travariam no Parlamento”. Portanto, ganhando Soares Carneiro, as grandes batalhas políticas deixavam de se fazer no Parlamento. Sá Carneiro já morreu e Soares Carneiro já não vai a jogo. Cavaco, então membro do Governo, saberá onde iriam travar-se as grandes batalhas políticas se o seu candidato presidencial ganhasse!

Assim nasceu, pois, a vocação política e democrática de Cavaco Silva que o iria levar à Figueira da Foz em 1985 para repor o projecto inicial da AD, o repescado projecto ideológico que ainda hoje conduz, como um bolsar incontinente, os impulsos estratégicos do PSD – uma maioria, um governo, um presidente... e tudo será nosso.

Continua...

1 comentário:

  1. Grandes verdades meu amigo, grandes verdades, mas o povo Português tem a memória curta.
    Talvez por isso o País se encontre nesta situação de "tanga".

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