Agora nem por isso, porque hoje há muito onde passar o tempo. Há outras alternativas, outras solicitações, outras vidas, outras motivações. Mas antigamente, no tempo em que eu era criança ou adolescente, a semana santa era a pior semana do ano.
Era uma "seca" do tamanho da nossa ignorância, muito por culpa da ditadura da religião católica tão abençoada por Salazar. No domingo anterior ao da Páscoa, era o domingo de ramos, lá íamos nós à igreja de raminho na mão para ser benzido na missa. Não sei pra quê, mas pronto. Era assim que as coisas funcionavam. Chegava-se à sexta feita santa, que não era feriado, a rádio deixava de transmitir o que quer que fosse, fechava pura e simplesmente. Era um silêncio sepulcral. Na televisão era só filmes de Cristo. Era Cristo por todo o lado. Ainda na sexta feira, havia o "enterro do senhor" o "lava pés", eu sei lá o que mais havia. O cerco católico era total. Nós os putos daquele tempo tínhamos que nos ir confessar, para no dia de Páscoa irmos receber o senhor na missa da Matriz, que era uma hóstia, que se colava no céu da boca.
Portanto de sexta até domingo, não se podia falar mal, não se podia pecar. Era o que os padres diziam e nós, pacientes, ignorantes e obedientes lá fazíamos o sacrifício. Não se podia mandar ninguém pró c... que era pecado. Éramos todos santos. Era o obscurantismo no seu máximo expoente.Veio o 25 de Abril, as coisa mudaram e bastante. Durante uns anos deixou de haver procissões. Deixaram de acontecer algumas coisas que apenas contribuíam para a nossa estupidificação. A igreja católica começou a perder peso e importância e nós começamos a sentirmo-nos mais livres.
Hoje em dia parece que tudo voltou para trás. Penafiel recuou no tempo. Regrediu. Em Penafiel a semana santa, está quase como antigamente. Tramelas, procissões, milhares de missas e muita devoção pelas capelinhas e andores. Aliás, a nossa terra tornou-se uma cidade de procissões. Até foram desencantar uma uma antiga procissão da senhora da Ajuda que não saía há não sei quantos anos. Por tudo e por nada, procissões e andores nas ruas que só servem para estorvar o normal funcionamento da vida.
Nisto tudo só havia uma coisa de que eu gostava muito. Era o dia de Páscoa, que era o dia em que acabava todos os jejuns, todas aquelas tretas. Era o dia em que nós estreávamos uma fatiota nova. Era o compasso com os seus tlins, tlins, tlins, pelas ruas, avenidas, quelhos.
De facto o dia de Páscoa era um dia de sol, mas durante a semana era a escuridão, era o bréu, era mau demais...
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