Há dias, neste blogue fui acusado através de um comentário, de ser insensível aos problemas ligados às pessoas portadoras de deficiência motora, isto num contexto da regeneração urbana que está a decorrer em Penafiel.
Compete-me aqui esclarecer e para que fiquem a saber, que não. Eu não sou insensível a essa tragédia que limita e muito o comportamento normal das pessoas.
Em 25 de Maio de 1970 ( faz hoje anos), eu fui cumprir serviço militar em Runa, freguesia do concelho de Torres Vedras, distrito de Lisboa. Fui trabalhar para um Lar de Inválidos Militares (ver foto). Ali eu trabalhei durante dois anos e meio com toda a espécie de deficientes físicos resultante muitos deles da guerra (Primeira Guerra Mundial). Era gente idosa entre os 70 e 80 anos. Estavam ali internados por todos os motivos que a miséria humana consentia.
Diariamente eu tratava e conduzia em cadeiras de rodas, muitas dessas pessoas. Algumas não tinham pernas, outros eram cegos e quase todos eram dependentes de mim e de todos os meus colegas militares. Eu subi e desci escadas, centenas, ou milhares de vezes, doentes em cadeiras de rodas, outros que tinham de ser auxiliados porque não tinham qualquer autonomia. Levá-los para a enfermaria, para o refeitório, para as camaratas, para os seus quartos, para o jardim e algumas vezes acompanha-los a tratamento hospitalar em Lisboa, através de comboio.
Eram ex- militares, autênticos farrapos humanos, que tinham perdido tudo, até as famílias. Nós sem qualquer tipo de formação, até apoio psicológico, sem sabermos que isso era, lhes prestávamos.
Portanto, eu sei muito bem o que é um deficiente motor e tenho por eles, quanto mais não seja todo e o mesmo respeito que me merece um cidadão que nem de muletas necessite para se deslocar seja para onde for.
Hoje aquele edifício setecentista, tanto quanto sei, está transformado em Centro Social de Runa, que presta apoio social a quem dele necessite...
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