sábado, 12 de maio de 2012

UM PRESENTE GREGO...

                                                   
O abandono por parte da Grécia, da União Europeia, não tarda. As próximas eleições que dentro de pouco tempo terão lugar, confirmarão tal cenário. E porque tal decisão sairá do voto livre, poder-se-à dizer que saírão, voluntáriamente. Que mudanças se deram desde o último escrutínio, que impossibilita a formação de governo forte e seguro, para que o voto dos gregos se altere, e que foi de contestação e de revolta contra o estado de coisas que arrastaram o povo para a pobreza? Que melhores expectativas de vida foram apresentadas, e sentidas, para que a escolha em quem votar próximamente, seja diferente daquela que foi tomada? Se alguma coisa aconteceu foi o acentuar das dificuldades. Assim, tudo leva a crer que os gregos confirmarão o seu voto, e por via disso manter-se-à a dificuldade de governação. Mas falar da Grécia, é falar de uma grandeza cultural, que pertence ao tempo dos mitos e até à actualidade. Com efeito, a Grécia de hoje ainda é um mito, e uma república insustentável, mas com um estatuto de superioridade sobre outras nações. A Grécia não é Portugal e os gregos não são como os portugueses. A Grécia não cabe num exercício de comparação connosco. A sua projecção, no Mundo das grandes e mágicas criações, é imensa, que tocou os Deuses ontem, e os Homens hoje. Viveu antes da 3ª república, a ditadura dos coronéis, com o apoio tradicional dos EE.UU. aos golpes dos militares, que remetidos nos quartéis silenciosos mas atentos, causam alguma estranheza de comportamento no consentimento da crise instalada e sem saída à vista. A Grécia denunciará ou rasgará de alto a baixo, todos os acordos, tratados, memorandos, compromissos, programas, critérios e demais estratégias estranguladoras, sairá do “euro”, e este gesto pode originar uma intervenção das armas mais nervosas - o factor fardado e preocupante. Aqui também não há comparação connosco. Cá não há “capitão corelli nem zorba”, nem há “sintak nem zebébika, mas “vira e corridinho”. Passamos anos e anos a falar de Amália, de Manuel de Oliveira e de Eusébio, e nada mais aconteceu, enquanto que eles mostraram-nos em igual período, Irene Papas, Melina Mercoury, Mikis Theodorakis, Mixalis Kakoyannis, Costa Gavras, Théo Angelopoulos, Vassilis Vassilikos, Paul Mazursky, etc. O que exemplifica bem, de que Portugal não é a Grécia. Não é não senhor – que mania! Ela é a “Europa”. Porém com tudo isto, mais o que não é do meu tempo, o problema da Grécia subsistirá, e não haverá rei costantino ou roque santeiro que lhes valha tão cedo, que garanta a estabilidade exigida, e o povo grego irá continuar com as hipotecas históricas e recentes, às costas, mas por menos tempos do que nós, mesmo que não encontre uns “jeans” que sirvam a todos, porque o mundo vai em seu auxílio e da sua cultura pesada e universal, mais rápidamente, embora a liberdade sonhada e a democracia real, fiquem para as calendas.

Joaquim A. Moura - Penafiel      
publicado no jornal "Público" de 12/05/2012  

Sem comentários:

Enviar um comentário