quinta-feira, 6 de setembro de 2012

O QUADRO INACABADO...


Um dia vi, num dos raros momentos de servíço público da RTP, o maestro António Vitorino de Almeida e o pintor Júlio Pomar numa acesa cavaqueira. Cavaqueira até certo ponto, porque a determinada altura,  o pintor perdeu a paleta perante a partitura do maestro.
O pintor estava a fazer um desenho de um toiro, já com bandarilhas espetadas no dorso e tudo. Então o músico, espreitando a obra por sobre o ombro do pintor, sabendo que este era  aficionado da “festa brava”, pergunta-lhe:  Já pensaste bem nessa história das touradas? Já meditaste na desigualdade que está subjacente ao acto de tourear? Sabias que um toureiro treina para cravar ferros no toiro, que um forcado treina para fazer pegas, que um cavalo é treinado para arrancar do público os estridentes olés e que só o desgraçado do toiro é que não tem treino nenhum? O toiro não é tido nem achado para participar num espectáculo de  que tanta gente gosta. O toiro é o bombo da festa. Então isso não é uma desvantagem de que os  homenzinhos  se aproveitam? Isso não é uma luta desigual? Será que aquelas “lantejoulas” que pavoneiam vaidosas na arena, não deviam pegar nas bandarilhas e espetá-las noutro lado?
Os dois amigos, continuaram amigos, mas perante a música que  Vitorino deu a Pomar, o pintor perdeu toda a inspiração para  acabar o quadro...

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