Um dia vi, num dos raros
momentos de servíço público da RTP, o maestro António Vitorino de Almeida e o
pintor Júlio Pomar numa acesa cavaqueira. Cavaqueira até certo ponto, porque a
determinada altura, o pintor perdeu a
paleta perante a partitura do maestro.
O pintor estava a fazer um
desenho de um toiro, já com bandarilhas espetadas no dorso e tudo. Então o músico,
espreitando a obra por sobre o ombro do pintor, sabendo que este era aficionado da “festa brava”, pergunta-lhe: Já pensaste bem nessa história das touradas?
Já meditaste na desigualdade que está subjacente ao acto de tourear? Sabias que
um toureiro treina para cravar ferros no toiro, que um forcado treina para
fazer pegas, que um cavalo é treinado para arrancar do público os estridentes
olés e que só o desgraçado do toiro é que não tem treino nenhum? O toiro não é
tido nem achado para participar num espectáculo de que tanta gente gosta. O toiro é o bombo da
festa. Então isso não é uma desvantagem de que os homenzinhos se aproveitam? Isso não é uma luta desigual?
Será que aquelas “lantejoulas” que pavoneiam vaidosas na arena, não deviam pegar
nas bandarilhas e espetá-las noutro lado?
Os dois amigos, continuaram
amigos, mas perante a música que Vitorino deu a Pomar, o pintor perdeu toda a inspiração
para acabar o quadro...
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