O abandono por parte da
Grécia, da União Europeia, não tarda. As próximas eleições que dentro de pouco
tempo terão lugar, confirmarão tal cenário. E porque tal decisão sairá do voto
livre, poder-se-à dizer que saírão, voluntáriamente. Que mudanças se deram
desde o último escrutínio, que impossibilita a formação de governo forte e
seguro, para que o voto dos gregos se altere, e que foi de contestação e de
revolta contra o estado de coisas que arrastaram o povo para a pobreza? Que
melhores expectativas de vida foram apresentadas, e sentidas, para que a
escolha em quem votar próximamente, seja diferente daquela que foi tomada? Se
alguma coisa aconteceu foi o acentuar das dificuldades. Assim, tudo leva a crer
que os gregos confirmarão o seu voto, e por via disso manter-se-à a dificuldade
de governação. Mas falar da Grécia, é falar de uma grandeza cultural, que
pertence ao tempo dos mitos e até à actualidade. Com efeito, a Grécia de hoje
ainda é um mito, e uma república insustentável, mas com um estatuto de
superioridade sobre outras nações. A Grécia não é Portugal e os gregos não são
como os portugueses. A Grécia não cabe num exercício de comparação connosco. A
sua projecção, no Mundo das grandes e mágicas criações, é imensa, que tocou os
Deuses ontem, e os Homens hoje. Viveu antes da 3ª república, a ditadura dos
coronéis, com o apoio tradicional dos EE.UU. aos golpes dos militares, que
remetidos nos quartéis silenciosos mas atentos, causam alguma estranheza de
comportamento no consentimento da crise instalada e sem saída à vista. A Grécia
denunciará ou rasgará de alto a baixo, todos os acordos, tratados, memorandos,
compromissos, programas, critérios e demais estratégias estranguladoras, sairá
do “euro”, e este gesto pode originar uma intervenção das armas mais nervosas -
o factor fardado e preocupante. Aqui também não há comparação connosco. Cá não
há “capitão corelli nem zorba”, nem há “sintak nem zebébika, mas “vira e
corridinho”. Passamos anos e anos a falar de Amália, de Manuel de Oliveira e de
Eusébio, e nada mais aconteceu, enquanto que eles mostraram-nos em igual
período, Irene Papas, Melina Mercoury, Mikis Theodorakis, Mixalis Kakoyannis,
Costa Gavras, Théo Angelopoulos, Vassilis Vassilikos, Paul Mazursky, etc. O que
exemplifica bem, de que Portugal não é a Grécia. Não é não senhor – que mania!
Ela é a “Europa”. Porém com tudo isto, mais o que não é do meu tempo, o
problema da Grécia subsistirá, e não haverá rei costantino ou roque santeiro
que lhes valha tão cedo, que garanta a estabilidade exigida, e o povo grego irá
continuar com as hipotecas históricas e recentes, às costas, mas por menos tempos
do que nós, mesmo que não encontre uns “jeans” que sirvam a todos, porque o
mundo vai em seu auxílio e da sua cultura pesada e universal, mais rápidamente,
embora a liberdade sonhada e a democracia real, fiquem para as calendas.
Joaquim A. Moura - Penafiel
publicado no jornal "Público" de 12/05/2012