Esta noite que passou, foi a noite mais curta do ano. Tudo por causa do solstício de verão. Apesar de curta a noite, ainda deu tempo para um sonho. Não visto aqui a pele de Shakespeare, para traduzir o seu "Sonho de uma noite de Verão", mas que foi um sonho lindo, foi sim senhor.
Eu tenho morangos no meu quintal, muitos. Então decidi ir vendê-los. Com açúcar para aguçar mais o apetite. "Vende-se morangos com açúcar", era o letreiro que escrevi com uma pena de Camões num pedaço de papel. De saco às costas procurei um lugar na cidade para amar os meus eventuais fregueses. De repente, fez-se luz. Já sei para onde vou, pensei. E zás meti uma primeira nas minhas manca-mulas e fui eu assentar arraiais, sabem onde? Espectáculo! Estabeleci-me sob Coberto do Calvário, que para mim não foi nenhum calvário, na medida em que nem precisei de montar a barraca para venda daquela fruta vermelha, tão vermelha como os lábios da Sara Montiel. Sabem quem era a Sarita Montiel? Isso mesmo, era a La Violetera..
Que bem me senti lá. Afinal dizem que Paula Teles só tem ideias maquiavélicas, mas tirem da cabeça essa ideia. Abrigado da chuva, protegido do sol, só tive de ter algum cuidado com as correntes de ar, que para esse mal, remediei com um avantajado chapéu de praia, que tinha encostado em casa desde a última vez que fui até Leça nadar na piscina construída pelo Siza.
Vendi tudo. Mais tivesse mais venderia. Se não fosse a cobertura do Calvário, ficava com os morangos sem açúcar e sem saber o que fazer com eles? É que o meu Pato de Sousa não tem pedal para tanta fruta. No fim da minha venda, todo cheio de contente, passei pela Câmara, paguei o imposto que tinha a pagar pelo espaço que ocupei, debaixo do abençoado coberto, e feitas as contas, finalmente consegui dinheiro para uma entrada na Magikland...
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