terça-feira, 4 de outubro de 2011

Texto sobre a água...


"Estamos no ano de 2070. Acabo de completar 50 anos, mas a minha aparência é de alguém de 85. Tenho sérios problemas renais porque bebo muito pouca água. Creio que me resta pouco tempo de vida. Hoje sou uma das pessoas mais idosas nesta sociedade.
Recordo-me de quando tinha 5 anos. Tudo era diferente. Havia muitas árvores nos parques, as casas tinham bonitos jardins e eu podia desfrutar de um duche de cerca de meia hora. Agora usamos toalhas com óleo mineral para limpar a pele. Antes todas as mulheres mostravam a sua formosa cabeleira. Agora devemos rapar a cabeça para a manter limpa sem água.
Recordo que havia muitos anúncios que diziam “Cuida da Água”, só que ninguém lhes ligava. Pensávamos que a água jamais poderia acabar.
Agora todos os rios, barragens, lagoas e mantos aquíferos estão irreversivelmente contaminados ou esgotados. Antes, a quantidade da água indicada como ideal para beber era de oito copos por dia por pessoa adulta. Hoje só posso beber meio copo.
A aparência da população é horrorosa. Corpos desfalecidos, enrugados pela desidratação, cheios de chagas na pele ferida pelos raios ultravioletas, pois já não há a camada de ozono que os filtrava na atmosfera.
As infecções gastrointestinais, enfermidades da pele e das vias urinárias são as principais causas de morte. A indústria está paralisada e o desemprego é dramático. As fábricas dessalinizadoras são a principal fonte de emprego e pagam com água potável em vez de salário. Os assaltos por um bidão de água são comuns nas ruas desertas. A comida é 80% sintética. Não se pode fabricar água, o oxigénio também está degradado por falta de árvores, o que diminuiu o coeficiente intelectual das novas gerações. A média de idades da população é de 35 anos.
 Advertia-se que havia que cuidar do meio ambiente e ninguém fez caso.
Quando a minha filha me pede que lhe fale de quando eu era jovem, descrevo como os bosques eram bonitos. Falo-lhes da chuva, das flores, do agradável que era tomar banho nos rios, beber toda a água que quisesse, como as pessoas eram saudáveis.
Ela pergunta-me:  - Papá, porque se acabou a água? Então, sinto um nó na garganta, não posso deixar de sentir-me culpado, porque pertenço à geração que acabou por destruir o meio ambiente, ou que simplesmente não teve em conta todos os avisos. Agora os nossos filhos pagam um preço alto, e sinceramente creio que a vida na Terra deixará de ser possível dentro de pouco tempo, porque a destruição do meio ambiente chegou a um ponto irreversível…"


Este texto foi extraído da revista biográfica "Crónicas de Los Tiempos, de Abril de 2002

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